terça-feira, 17 de agosto de 2010

Arte, beleza e estilo

       Sinto todo o tempo a vontade de escrever algo aprazível aos olhos e aos sentimentos, algo transparente, traçado de mãos de artista, doce como o néctar da flor...porém, aceito o designio divino que impõe a nós mortais a dura realidade que diz que beleza não é sinônimo de arte. Sempre digo àqueles que me emprestam seus ouvidos, que sou, como diria Manuel Bandeira, uma parnasiana aguada. A beleza me encanta de tal forma, que ela por ela mesma me basta. Mas beleza pura e simples não é arte. Os poetas parnasianos foram demasiadamente criticados por nutrirem este mesmo amor que alimento. Beleza apenas por  beleza não é arte, repito ainda uma última vez. 
       O que é arte então, meu poeta-irmão? Contornos, pesquisas, embaraços e desembaraços, construções, pinceladas e estilo. Segundo aqueles que detêm o poder de decisão, arte é processo. O quê e o porquê da arte se justificam no processo.
       Quando dizem a você "Faça sua arte" são hipócritas. Seus singelos poemas, seus quadros tão ousados e desafiantes, suas belas esculturas, não são arte! Minhas paupérrimas linhas, essas também, por mais que tentem, nunca serão. Muito menos as doces melodias que possam elas receber.
       Talvez nós dois, meu caro artista, sejamos de fato bons, mas nunca o seremos suficientemente para ostentar o título do supra-sumo artístico.
Reflita, por exemplo, sobre estilo. Muito provavelmente você me dirá que conhece pessoas que possuem um estilo próprio.Mas quer saber o que penso sobre estilo? Às vezes (ou sempre) ele me parece algo muito forçado, não surge da nobre necessidade de se expressar: Sempre iniciarei parágrafos com letra minúscula!, dirão alguns. Quer saber? O que importa o que penso? Nada. Atentemo-nos, você e eu, ao fato de que estes que possuem estilo, estes sim, trabalharam arduamente dia após dia por uma marca que só se é possível enxergar neles. Ah, amigo, são esses os artistas (sem ironia qualquer). A arte que é por eles desenhada, nasce como o anel, único e singular, que surge das mãos do ourives. É o trabalho incansado que traz os louros da fama.
       Sei que também  é interesse seu buscá-los, mas suplico, meu artista, não se seduza pelos benefícios inglórios. A verdade, o sentimento que brota da verdade, a obra verdadeira, talvez não seja arte para muitos, mas é sua e minha. Nela enxergamos quem somos, e tenho certeza que também nos enxergarão um dia, pois só é indubitavelmente único, aquilo que brota de emoções. Onde nada é forçado.
       Bilac, o príncipe dos poetas, nosso maior parnasiano, tem uma  poesia que se chama "Profissão de Fé", nela Bilac fala sobre o trabalho do ourives, aquele mesmo trabalho que citei logo acima, diz o poeta que com o ouro bruto, faz ele (o ourives) em alto relevo uma flor.
       A ironia também é uma vertente artística pulsante e reverberante e que muito me apraz. Como podem tão estilosos artistas preconceituarem a profissão bilaquiana, a profissão do ourives, se vivem também investindo no mesmo trabalho árduo e incessante? É ou não é irônico?
       Seja por beleza, seja por estilo, ou por ventura o que quer que venha a ser, somos eu, tu e ele a mesma pessoa, de uma mesma conjugação, indiferentes ao tempo ou ao modo: artistas.